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São Paulo, SP, Brazil
Escritor a serviço da Espiritualidade.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Biografia de Roberto de Carvalho - Literatura e mediunidade

Filho do operário Emmanoel José de Carvalho e da costureira Maria Carolina Pacheco de Carvalho, nasci no dia 2 de março de 1964, no pequeno município de Liberdade (MG). Sou o sexto filho dos sete que meus pais conceberam: José Mário, João Daniel, Maria Aparecida, Juarez, Maurício, Roberto e Nelsan.

Meu amor pela escrita surgiu nos primeiros anos escolares, na Escola Estadual Frei José Wulff, em minha cidade natal. Quando cursava o primário, eu fazia parte do “Clube de Leituras Machado de Assis”, que foi instituído na escola por uma de minhas professoras. Todas as sextas-feiras, alguns alunos se reuniam e dedicavam um tempo à declamação de versos, leitura de redações... E eu me destacava pelo interesse que demonstrava nesses eventos.


Aos dez anos, eu fazia versos, compunha letras de música e, mentalmente, criava histórias com início, meio e fim, durante as solitárias caminhadas para a escola, que ficava uns quatro quilômetros distante do sítio onde minha família morava. Meus cadernos escolares, mesmo os de Matemática e Geografia, viviam cheios de versinhos que eu rabiscava descuidadamente.


Quando eu tinha treze anos (1977), por questões profissionais, meu pai precisou se mudar para Angra dos Reis (RJ), onde foi trabalhar na construção das usinas nucleares. Ali retomei parte dos estudos interrompidos e, como continuasse escrevendo poesias, fui incentivado por uma professora a participar dos concursos literários promovidos pela Academia de Letras daquele município: o Ateneu Angrense de Letras e Artes.


Aceitei o desafio e comecei a me destacar nesses concursos, principalmente por eu ser, à época, um dos poucos concorrentes da região que participavam com sonetos (forma antiga de poesia, composta de quatorze versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, rimados e metrificados) em vez de poemas de versos livres, como a grande maioria dos participantes. Na verdade, desde que li o primeiro soneto, ainda na adolescência, eu me encantei e quis adotá-lo em minhas escritas.


Empenhei-me em aprender as exigentes regras da poesia clássica: métrica, disposição das rimas, tonicidade, elisão... Para isso, passei a ler as obras dos grandes sonetistas e travei amizade com poetas renomados que, gentilmente, deram-me muitas dicas e conselhos.

Após ter conquistado várias premiações nos Concursos do Ateneu, fui indicado para ocupar uma Cadeira naquele Sodalício, onde tomei posse no dia 19 de outubro de 1994, aos 30 anos de idade. Três meses depois, assumia o cargo de 2º Secretário da instituição, voltando a exercer essa função em outras ocasiões.

Em 1997, reuni 54 sonetos naquele que foi o meu primeiro livro, intitulado Imersão. Depois, publiquei mais dois pequenos livros: Poesias Esparsas e Transparência. Por conta desse último, fui convidado para me tornar membro correspondente da Academia Guanabarina de Letras, do Rio de Janeiro, onde tomei posse no dia 19 de setembro de 2003.


Escrevi como colaborador para alguns jornais de Angra e recebi premiações em concursos literários de abrangência nacional. Fui um dos fundadores e, durante dois anos, fui redator do jornal comunitário Grande Japuíba. Fui agraciado com Moção de Aplausos e condecorado com A Medalha do Mérito Cultural Brasil dos Reis, pela Câmara Municipal. Recebi do Ateneu Angrense a Comenda “Colar de Cunhambebe”, título benemérito outorgado àqueles que se destacam no campo da cultura.


Apesar de todas essas conquistas no campo cultural, sou praticamente autodidata. Na infância faltou oportunidade e incentivo para estudar e depois faltou paciência para frequentar os bancos escolares. Cursei apenas um período de licenciatura em Letras, já em idade adulta, e ainda assim abandonei o curso por falta de assiduidade.


Cheguei aos quarenta anos de idade sentindo um terrível vazio existencial. Na verdade, havia falta de espiritualidade em minha vida. Eu tinha abandonado o catolicismo na juventude e me afastara completamente das religiões; não conseguia mais desenvolver uma fé consistente baseada em preceitos doutrinários que apregoavam a ressurreição dos mortos, existência do Inferno como um lugar circunscrito, e a crença em figuras mitológicas como o Demônio e o Espírito Santo, dentre outras concepções que já não me entravam no juízo.


A essas alturas, vivendo ainda em Angra dos Reis, eu passava por problemas de toda ordem. Meu casamento havia se arruinado (eu tinha me casado aos 21 anos, em 1985, com a angrense Rosemary Marques, tive dois filhos com minha esposa [Thomas e Sarah] e dois [Vinícius e Samuel], em curtas e tumultuadas relações vividas logo após me separar); enfrentava problemas financeiros e minha saúde também andava bastante debilitada. Minha vida parecia um barco à deriva e eu não conseguia visualizar um porto onde atracar. Nenhum projeto se concretizava e a depressão andou flertando comigo. Foi uma época de poesias tristes, amargas e pessimistas!


Minha irmã caçula, Nelsan Maria de Carvalho, que havia se tornado espírita há alguns anos e que morava em São Paulo, estava convencida de que eu possuía compromissos no campo mediúnico e me convidou para conhecer a Doutrina Espírita.


Ao entrar pela primeira vez num Centro Espírita (novembro de 2004) e ouvir uma belíssima palestra sobre os Evangelhos de Jesus na visão do espiritismo, percebi que estava no lugar certo e, desde então, abracei a Doutrina codificada por Allan Kardec. Continuei a frequentar o Centro Espírita e decidi me mudar em definitivo para a capital paulista.


Empenhado em aprender o máximo possível sobre espiritismo, agarrei-me aos livros da codificação com a mesma tenacidade com que no passado agarrara-me aos sonetos. Desde então, passei a direcionar meus escritos aos fundamentos do espiritismo, inserindo neles os preceitos de caridade, amor a Deus e ao próximo, perdão das ofensas e a origem espiritual do ser humano. Foi quando consegui realizar o sonho de escrever histórias mais longas. Até então, minhas escritas em prosa não passavam de narrativas curtas com, no máximo, dez páginas.


Por meio de estudos, reflexões e algumas ocorrências espirituais que testemunhei, descobri a minha condição de médium inspirado e comecei a me dar conta de que muitas daquelas ideias literárias provinham de uma fonte espiritual, com a qual procuro hoje me sintonizar. As ideias vão surgindo e a construção literária segue por minha conta, exigindo alguns meses de dedicação, concentração, trabalho de pesquisa e recolhimento para a consecução de uma obra.


Em 2006, tive o romance espírita de estreia (A cabana das Flores) publicado pela Editora Aliança e aí a produção não mais parou. Até o momento foram publicados 16 romances espíritas, 4 livros de poesias e 6 infanto-juvenis. Além disso, pela Fundação Dorina Nowill para cegos, tenho 2 trabalhos infantis publicados em Braille.


Em 2008, passei a estudar e trabalhar no Grupo Espírita Pescadores de Amor, em Itaquera – São Paulo (SP), nas tarefas de cura espiritual, psicografia e reuniões mediúnicas.


Como divulgador da Doutrina Espírita, venho realizando palestras em centros espíritas de São Paulo e de outros municípios, além de participar de eventos literários e entrevistas a rádios e TVs.


Em 2010, a convite da então presidente da Academia de Letras da Grande São Paulo (São Caetano do Sul), poetisa e escritora Gioconda Labecca, tomei posse naquele Sodalício, ocupando a Cadeira 29, cujo patrono é Humberto de Campos.


Em 2015, tive o romance Nova Chance para a Vida publicado pela Editora Boa Nova, também com ótima aceitação pelos leitores.


Profissionalmente, criei um selo editorial (Daya Editorial - www.dayaeditorial.com.br) com o qual ofereço trabalhos de publicação de livros e assistência editorial a autores independentes.

Livros publicados até 2016:

Editora Aliança
A Cabana das flores (romance)
Alianças de junco (romance)
Arquipélago dos pacíficos (juvenil)
Cicatrizes na alma (romance)
Colhendo bênçãos (romance)
Dorinha, a tartaruga marinha (infantil)
Escola de almas (romance)
Esperanças renovadas (romance)
Guerra no formigueiro (infantil)
Labirintos da culpa (romance)
Na trilha do passado (romance)
O dom de perdoar (romance)
O pequeno médium (romance)
O pombinho que não morreu (infantil)
O semeador (infantil)
Quando os campos florescem (romance)
Sedução das ofensas (romance)
Sem o véu das ilusões (romance)
Uma história de perdão (romance)

Edição independente:
Imersão sonetos (poesias) 
Poesias esparsas (poesias) 
Transparência (poesias) 
O cultivador de sonhos (juvenil) 
Celebração (poesias)

 Fundação Dorina Nowill - edição em Braille
A lesma no metrô (infantil)
João e Maria – adaptação (infantil)

Editora Boa Nova
Nova Chance para a vida (romance)
Eternas virtudes do amor (romance)
A segunda chance (juvenil)

Alguns municípios onde fiz palestras:

Arujá (SP)
Atibaia (SP)
Blumenau (SC)
Bragança Paulista (SP)
Curitiba (PR)
Guararema (SP)
Guarulhos (SP)
Piracaia (SP)
Poá (SP)
Praia Grande (SP)
Registro (SP)
Santa Isabel (SP)
Santo André
São Carlos (SP)
São Paulo (SP)
Suzano (SP)
Volta Redonda (RJ)






quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

NOTURNO

Na solidão da imensa noite fria,
irresponsavelmente me entorpeço
numa overdose de melancolia
pela qual pago insustentável preço.

E acolho em mim a dor da nostalgia
– velha parceira que tão bem conheço –
e faço dela musa da poesia
que escrevo aos prantos e depois esqueço.

Nada a evitar que a noite assim prossiga,
sem sono, ou sonho, ou coisa relevante...
Nenhum folguedo que meus versos contem.

Porém remete a outra noite antiga
de um tempo incalculável, tão distante...
Mas que pareço ter vivido ontem!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

VIUVEZ E SONHO

Ontem, mirando a luz crepuscular,
pelo horizonte, em rubra claridade,
pensei em ti e, triste, o meu olhar
deixou verter um pranto de saudade.

Mas, veio a noite, e em sonho singular,
- de incrível semelhança à realidade –
eu te encontrei, tranquila, a me esperar,
sorrindo... A sugerir cumplicidade.


Hoje, acordei feliz e até suponho
que a causa disto foi aquele sonho
no qual pude sentir-te tão presente...

Havia em teu olhar tanta bonança,
que renovou em mim esta esperança
de um dia estarmos juntos novamente!

sábado, 28 de maio de 2011

O AMOR E O PERFUME

O teu adeus deixou tanta saudade
e tanta solidão, que eu quis um dia,
preencher a tua ausente companhia
com outro amor, talvez, outra amizade...

Meu coração ingênuo não sabia
que amores, consistentes de verdade,
seguem vivendo pela eternidade...
Negá-los é uma tola hipocrisia!

Depois dessas frustradas tentativas,
notei que ainda prosseguiam vivas
as mesmas dores que a viuvez resume.

Vi que o amor, embora estando triste,
supera o tempo e a sua ação persiste,
feito o aroma nos frascos de perfume!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DISTRAÇÃO

 Foi-se o crepúsculo em silente prece...
O sol descente... a natureza fria...
Imperceptivelmente acaba o dia
e a noite cresce!

Sob a planura do sombrio véu
exibem-se as estrelas luminosas
e cobre-se de alegres nebulosas
o escuro céu!

E o viajante, indiferente a tudo,
nem se dá conta da sutil beleza
deste espetáculo divino e mudo
da natureza!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ANCORADOURO

Eu sou um barco à deriva,
singrando num mar bravio;
sou aquele que se esquiva
da mansuetude do estio.

Vou na contramão de tudo,
negando meu próprio ser;
jamais me engano ou me iludo
com gestos de bem-querer.

Eu tenho profundo gosto
por intermináveis fugas,
e trago expostas no rosto
as marcas de antigas rugas.

Mas, agora, minha amada...
Agora que te encontrei;
desta vida desregrada,
se ainda gosto, não sei.

Senti o toque gostoso
da tua terna acolhida
e esse abraço carinhoso
que me deixa sem saída.

Descobri o que é saudade
e o que é ter alma doente...
Agora sou só metade
quando te encontras ausente.

Agora tu és meu porto
e eu sou um barco parado;
às ilhargas do teu corpo
eternamente atracado!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

SE...

Se fosse o teu amor um rio calmo,
sem fortes corredeiras, sem peraus...
Se fosse a tua voz um suave salmo
no doce encantamento dos saraus;

se o teu olhar medisse, palmo a palmo,
a dimensão exata do meu caos,
cuidando se me inquieto ou se me acalmo
ao fluxo da maré que impele as naus;

serias meu refúgio, com certeza,
a amiga que se doa com presteza,
a companheira ideal da qual preciso...

No entanto, não serias minha amante,
pois esta sim, mantém uma incessante
labareda a queimar-se em meu juízo!

sábado, 22 de janeiro de 2011

DESAFIO DE AMOR

Este medo de amar que tu sugeres,
lamentável cuidado desmedido,
não é gesto comum entre as mulheres
às quais a vida tem tão bom sentido.

Porque fugir daquilo que tu queres
contradiz o teu jeito extrovertido,
esta fecunda floração de Ceres
que a luz do teu olhar tem sugerido.

Desfaça do teu peito esse temor
e entrega-te à grandeza deste amor
que te assedia inteiro o coração.

Para se amar de novo só é tarde
à pretensão de um coração covarde
que não assuma os riscos da paixão!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

IMPREVISÃO

Que imprevisível cântico desperta,
em suave voz, o espírito dormente
e enche de espanto o coração da gente
na inquietação de nova descoberta?

Que intempestivo caos, tão de repente,
desvia o rumo da jornada certa
e, nos arroubos de uma estranha oferta
aponta um novo cais à nossa frente?

Louvemos, pois, o involuntário assédio
dos vendavais que vão depondo o tédio
e impulsionando a embarcação perdida;

levando ao porto dos regenerados
os navegantes que, desencantados,
oscilam tristes sobre o mar da vida!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

SONETO DA DEMORA

Tardastes tanto para regressar,
que nada tenho para dar-te a gosto;
salvo esta angústia presa ao meu olhar,
salvo estas rugas graves no meu rosto.

Tardastes tanto, para o meu desgosto,
que acostumei-me à dor de te esperar,
feito um veleiro à hora do sol-posto,
que se habitua à solidão do mar.

Ó tempo ingrato! Ó triste esquecimento!
Que tendo em posse o teu discernimento,
tornou-te surda à queixa do meu ser...

Agora, aceita este final de festa;
esta ruína humana que me resta
é tudo o que te posso oferecer!

sábado, 8 de janeiro de 2011

QUANDO ME AMARES

Quando me amares,
Faça-o devagar;
Com gestos e olhares
De quem sabe amar...

Não me ames nunca
Só pela metade;
Amor dividido
Cheira a falsidade!

Não me ames nunca
Como quem tem pressa;
O amor verdadeiro
Sempre recomeça!

Não me ames nunca
Perguntando a hora;
O amor verdadeiro
Nunca vai embora!

Não me ames nunca
Com a cabeça ausente;
O amor verdadeiro
Sempre está presente!

Não me ames nunca
Só por caridade;
O amor verdadeiro
É sinceridade!

Não me ames nunca
Pela causa errada;
O amor verdadeiro
Não exige nada!

Quando me amares,
Faça-o devagar;
Com gestos e olhares
De quem sabe amar!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

DISSIMULAÇÃO

Quando o silêncio lúgubre da voz
supera a trama da palavra dita
e os olhos (lume do que existe em nós)
trazem à tona  o que a razão evita,

já não há como sermos, mesmos sós,
ilha remota onde ninguém habita...
O pensamento é um pássaro veloz
fugindo ao logro que a voz premedita.

Por mais que a convenção nos recrimine,
o nosso olhar é sempre uma vitrine
fiel às pretensões do coração...

Por mais que se procure adestramento,
ninguém consegue impor ao pensamento
as mesmas leis impostas à razão!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

EXTRAVIO

É provável que eu tenha me perdido
e vague agora sem sensor ou rota;
meu barco pelos ventos impelido,
buscando um porto na amplidão remota.

É provável que eu tenha me esquecido
por qual motivo me afastei da frota:
se por achá-la inútil, sem sentido,
se por ter alma tão pouco devota.

É bem provável que ao buscar a volta
eu não encontre o mesmo itinerário
do porto antigo que deixei um dia...

Mas, vagarei tranquilo, sem revolta,
e hei de encontrar num porto solidário
aquela antiga paz que eu possuía!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

POESIA QUASE TRISTE

Perdi os rumos de mim,
Por isso vagueio assim,
Buscando o abrigo de um porto.
Ostento profundas rugas
E as cicatrizes das fugas
Deste meu “eu” triste e torto.

Trago um tormento previsto
Nas chagas de um velho cristo
Que se projeta em meu rosto.
Trago os sonhos destroçados
Pelos tufões indomados
Que o destino tem imposto.

Mas trago (bendita seja!)
A inspiração benfazeja
De uma poesia rimada.
Gerada dentro da alma,
É meiga filha que acalma
A hostilidade da estrada!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O CÃO E O MENINO

Na calma manhã de outono,
à brisa morna que passa,
vai um cachorro sem dono
vagando, solto, na praça.

Com seu rabinho inquieto,
às vezes, para e se estica,
ergue as orelhas e, ereto,
não sabe se vai... se fica...

Num gesto bem displicente,
um travesso menininho
oferta ao cão, de repente,
um cafuné no focinho.

O cão, com grande alegria,
lambendo a mão da criança,
late, pula e rodopia,
numa imitação de dança.

E os dois, em paz com o destino,
brincam na manhã de outono;
um, sem pensar que é menino
e o outro, que é cão sem dono!

sábado, 18 de dezembro de 2010

DUALIDADE

Uma parte de mim, que é só poesia,
e que vive vagando pelo espaço,
não possui o pesar de uma agonia,
nem se entrega à tortura do cansaço.

Outra parte, que é pura anatomia,
que se arrasta no chão de passo em passo,
traz a sombra tristonha da apatia
de manter-se nas teias do embaraço.

E, tentando escapar do duplo ofício
de ser fria razão e sonho leve,
cada parte de mim é um precipício...

Para ter, cada parte, um tempo breve,
uma parte pratica este exercício
de apagar o que a outra parte escreve.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

CICLO DA VIDA

O tempo acumula, nas horas vividas,
as graves feridas que o mundo oferece,
porém armazena também a ventura,
a doce ternura que à alma enternece.

Da infância inocente perduram os sonhos
dos anos risonhos, repletos de alvores...
as cismas voláteis, risíveis projetos
- pilares secretos de ingênuos amores -.

E na juventude a robusta pujança
da luz da esperança a apontar sempre à frente...
A alma radiosa é um farto celeiro
e o mundo um canteiro esperando a semente.

E chega a velhice trazendo o sossego,
o terno aconchego da brisa outonal...
Os sábios conselhos da longa vivência
e a lenta cadência do tempo final.

Depois vem o sono da breve passagem,
a nova paisagem da vida a se abrir...
A morte do corpo a alma liberta
e Deus nos oferta um novo porvir!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

SONETO DE RENOVAÇÃO

Hoje é sutil a dor que te reclama
e no meu peito insere nostalgia,
feito uma aragem suave ao fim do dia
que, num sussurro, por teu nome chama.

Hoje, restrita à vã fisionomia,
tua lembrança não é viva chama,
mas sou ainda aquele que te ama
e vive desprovido de alegria.

A vida passa e todo o sentimento
decai vencido pelo esquecimento,
quando largado à solidão da espera...

No entanto, resistente a toda prova,
o meu amor é flor que se renova
a cada vez que surge a primavera!

sábado, 27 de novembro de 2010

INVASÃO

Como um velho arquipélago sagrado,
perdido em meio ao mar, ermo, deserto,
meu coração, distante e sossegado,
somente à solidão mantém-se aberto.

Qual fosse um visitante indesejado,
teu coração o meu tem descoberto,
intruso, impertinente e desastrado,
roubando o meu sossego outrora certo.

E vem trazendo um turbilhão consigo
a revolver meu solo incauto e virgem
e a destroçar a paz que eu possuía...


Mas, vem de um modo estranhamente amigo
e traz-me a sensação de uma vertigem
que oscila entre a repulsa e a euforia!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

FOLHAS

As tantas folhas amarelecidas
que se desprendem da árvore copada
e seguem soltas pelas avenidas
ao sopro audaz da brisa descuidada

lembram meus sonhos, ilusões vencidas
pela razão da vida transtornada;
musas de amor do peito desprendidas,
parte de um todo reduzido ao nada.

Nem sempre a vida nos oferta escolhas,
visto que, às vezes, poderosa mão
leva projetos, ilusões e folhas...

E como o sonho, que se alteia em vão,
fogem ligeiras, fugidias bolhas
de espumas fluidas, pela imensidão!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

VELHICE DE MÃE

Mamãe, o que é velhice?
Pergunta o filho inocente.
E a mulher, lembrando as mágoas
da dor passada e presente,
encara o filho e responde:
- Velhice é o que tenho em mim!
A criança, reparando
nos olhos de sua mãe,
grita: - Meu Deus, mamãezinha!
A velhice é linda assim?!!!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

POEMA DE RENOVAÇÃO

Feito o galho ressequido
de um velho tronco caído
à margem da rodovia,
só tenho vagas lembranças
de apagadas esperanças
que minha alma perseguia.

Mas na ramagem que resta
na ponta do galho, em festa,
cantam pássaros felizes
e na vibração sonora
minha alma sorri e chora
sobre antigas cicatrizes.

E as alegrias passadas
são sementes renovadas
que o pranto presente gera
e, no prado hospitaleiro,
transformam-se num canteiro
quando chega a primavera!